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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Cristina Padiglione narra como era ser setorista do programa Hebe.



Houve um tempo em que eu ia ao programa da Hebe toda semana.

Ser setorista do programa dela no SBT, ainda nos tempos do Teatro Silvio Santos, no Carandiru, foi uma das minhas primeiras atribuições na velha Folha da Tarde. O programa era ao vivo, nas noites de segunda e, mesmo assim, meu diretor de redação, então Adilson Laranjeira, queria que o jornal publicasse matéria sobre a atração da loira dois dias depois, visto que o fechamento não alcançava a edição de terça.

Houve até o dia em que a Hebe escondeu de todos os jornalistas que daria um jantar em casa para a atriz Verônica Castro, estrela de “Rosa Selvagem”, um daqueles sucessos mexicanos que o SBT emplaca de vez em quando, mas, ao me ver no programa, naquela noite, Hebinha me chamou no intervalo e falou pessoalmente sobre o jantar. “Vai lá em casa”. Fui. E conto até essa historinha na rádio Estadão ESPN como o dia em que eu perdi uma entrevista com o Silvio Santos.

Hebe sempre foi o que se via pela TV. Não que a vida lhe fosse um mar de rosas, tinha lá seus dramas e não sabia muito fingir. Era evidente quando algo a contrariava. Mas o diacho do otimismo botava seu vocabulário, seus modos e voz lá em cima. Foi malufista quando ninguém mais o era. Defendeu Collor quando ninguém mais ousava fazê-lo.  Usou joias reluzentes depois de dois assaltos em casa.  Casou-se de novo, depois de um casamento frustrado.  Mudou de emprego aos 80 anos. Criticou o patrão em público, quando achou necessário.  Fez, como me disse o Nilton Travesso há pouco, um programa sempre pautado pela própria emoção, jamais por formatos.

Assumia o que sentia e dizia, sempre, sem jamais se render aos preceitos de media training: nunca falou o que falou para agradar A ou B.  Era o que era, e era o que hoje ninguém mais ousa ser. Disse a Hebe, em seu último encontro com jornalistas, que não tinha medo de morrer. Tinha pena. Nós é que deveríamos dizer que a partida dela é uma pena.

Bebe mais uma, Hebe? 

Fonte: Cristina Padiglione (Estadão)

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