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domingo, 4 de agosto de 2013

A Rainha do Domingos Eliana comemora 25 anos de carreira e alfineta Record e Gugu: "Sensacionalismo e desgraça alheia tem vida curta"



 Prestes a completar dois anos, Arthur descobriu na internet uma versão de "Os Dedinhos" cantada pela turma da Galinha Pintadinha. Não foi apresentado à canção original, gravada por sua mãe, Eliana, na encarnação apresentadora infantil e cantora. 

Em 1993, Eliana fez sucesso com os versos, traduzidos também por coreografia das mãos: "Polegares, polegares, onde estão/ aqui estão/ eles se saúdam/ e se vão". Vendeu 3 milhões de discos. 

Duas décadas depois, a apresentadora de 39 anos, que trocou o público infantil pelo adulto em 2005, vê seu antigo território ser ocupado por novos ícones da criançada. "Arthur descobriu sozinho a canção em um vídeo e está amando. Nem imagina que fiz sucesso com ela", conta Eliana Michaelichen à repórter Eliane Trindade. 

Arthur corre pelo camarim, enquanto a mãe se prepara para entrar no palco do programa "Eliana". Ele tem os cabelos claros da mãe e a pele morena do pai. "É o meu neguinho, um menino do Rio", brinca ela. 

O garoto, fruto da relação com João Marcelo Bôscoli, herdeiro de Elis Regina, descobriu também no YouTube que Popó, personagem da Galinha Pintadinha, foi ao programa da mamãe, atração das tardes de domingo do SBT. 

Eliana faz 25 anos de carreira neste mês. Às vésperas do jubileu, renovou contrato com a emissora de Silvio Santos. Bem no momento em que o seu concorrente direto, Gugu Liberato, era dispensado pela Record. "Nesses quatro anos no SBT, a concorrência mudou muito, enquanto meu programa se manteve com excelente audiência", diz a vice-líder do horário. 

Seu programa dá em média 7 pontos no Ibope, com picos de 14. Nos últimos tempos, Gugu levou a melhor ao explorar a história de um anão que ganhou uma casa própria. "Não queremos brigar pela audiência, mas construí-la. Tem coisas básicas que atrai o público: sensacionalismo, assistencialismo, desgraça alheia. São fórmulas, mas de vida curta." 

Sem falar de Gugu, que ganhava R$ 3 milhões na Record, ela alfineta os supersalários: "É muito ruim estar ganhando um valor que, sabe-se, não vai pagar a conta. É ruim para o profissional, para a equipe, para todos". 

Nem uma palavra sobre cifras do próprio contrato. "Eu sei o meu valor. Não quero ganhar nada mais do que acho justo e que seja viável para a emissora." Uma conta que passa pelo salário fixo e pela quantidade de merchandising. Em alguns domingos, o número de inserções chega a 12, ao custo de R$ 450 mil cada uma --20% vão para o bolso da apresentadora. 

Sobre o líder Faustão, ela é diplomática. "Ele é muito competente, sabe conquistar o anunciante e tem a Globo, uma máquina forte por trás." 

Primeira mulher a entrar no clube do bolinha dos apresentadores dominicais, Eliana está prestigiada. É dona de uma das três vagas cobertas do estacionamento do SBT. As outras duas são do patrão e de Carlos Alberto de Nóbrega. "Tudo é uma conquista, não sou nada deslumbrada com dinheiro e status, quero mais é trabalhar." 

Ex-integrante de conjuntos musicais como A Patotinha e Banana Split, Eliana foi descoberta por Silvio ao disputar o "Qual É a Música". Ganhava, aos 19 anos, um programa para chamar de seu: "Festolândia". Só durou três meses. "Parei o Silvio no corredor e pedi, aos prantos, para ele me deixar no ar." 

O gesto desesperado da estreante, que não queria ficar recebendo salário em casa, deu resultado. Eliana passou a fazer as chamadas da sessão de desenhos da emissora. "Comecei a ensinar as crianças a brincar com as mãos." Deu certo. Nilton Travesso, então diretor artístico da emissora, brincou ao encontrá-la pela primeira vez: "Você tem pernas!". 

Ela só cresceu para valer quando trocou o SBT pela Record, onde mudaria de faixa etária anos depois. "Fiz terapia e fonoaudióloga na transição para o adulto. Fiquei oito meses me preparando." 

Difícil era perder o jeito infantilizado. "Quando ligavam as câmeras, minha voz já vinha em um tom mais doce. Eu me assistia para empostar minha fala." Fez nova transição na volta ao SBT, em troca-troca com Gugu. "Conquistei espaço. Nada foi fácil." 

É filha de um zelador e de uma diarista. "Desde cedo aprendi com as dificuldades e a enfrentar de forma positiva as diferenças sociais e culturais. Não é porque venho de uma família simples que não posso me abastecer de cultura e aprimorar meu gosto", afirma. "Sou resiliente." 

O pai queria que ela concluísse a faculdade de psicologia, trancada no terceiro semestre. Já a mãe levava a filha aos testes das agências de modelo e de talentos. Não foi selecionada para estrelar "O Primeiro Sutiã", mas é figurante do comercial assinado por Washington Olivetto para a Valisere em 1987. 

A resistência paterna foi vencida. "Quando conquistei o primeiro apartamento, ele viu que não era brincadeira." Os pais se separaram depois. Ela presenteou a mãe com um imóvel no prédio de luxo onde o pai foi zelador por 30 anos. "A gente morava no último andar e brincava que era nossa cobertura." 

Encarna a "gata borralheira" que une o sertão cearense, terra do pai, ao sangue russo e ucraniano materno. Hoje, sobe no salto assinado por Louboutin, veste Valentino e outras grifes de luxo. Frequenta cursos de história da arte na Casa do Saber. Fez plástica no nariz e não descarta colocar silicone, caso tenha um segundo filho. 

Engatou namoros com famosos como Luciano Huck e Roberto Justus. Faz a linha boa moça? "Não é isso. Tenho meus momentos. Sou tranquila, mas, se quero privacidade, sei onde encontrar." 

Sabe também ganhar dinheiro. Tem 160 produtos licenciados e abriu uma editora de livros voltados para o público AAA, bem diferente das caravanas que lotam seu auditório no SBT. 

Lançará pelo selo a biografia da sogra. Arthur foi ninado ao som de Elis cantando "Só Tinha de Ser com Você", de Tom Jobim. Eliana cantarola os versos e se emociona: "É uma herança linda. Meu filho vai ter muito orgulho de saber que é neto dela". 

E emenda: "Assim como terá muito orgulho de saber quem são seus avós maternos. Meu pai e minha mãe não trabalharam na música, mas fizeram a sua história". 

Fonte: Mônica Bergamo (Folha de São Paulo)

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